sábado, 14 de janeiro de 2017

Predestinação vs Presciência

Predestinação e presciência são palavras que geram muita discussão e muita controvérsia, se tratando da forma em que Deus escolheu seus eleitos para a salvação. De um lado aqueles que defendem que Deus predestinou os eleitos segundo a Sua vontade somente, e de outro lado os que defendem que Deus escolheu os eleitos segundo o Seu conhecimento prévio, ou seja, Sua presciência, de quem iria seguir os caminhos de Cristo até o fim, consequentemente seriam salvos baseados no sacrifício de Jesus, mas com a participação do homem em decidir seguir à Cristo até o último instante da sua vida. Mas o que a Bíblia diz sobre isto? Tentarei, em poucas palavras, trazer uma análise exegética deste tema tão discutido.

O termo traduzido por “predestinação” no Novo Testamento, é o termo grego “προοριζω (proorizo)” e aparece na carta de Paulo aos Romanos 8.29-30 e em Efésios1.5,11. Este mesmo termo aparece na Primeira Carta aos Coríntios 2.7; que foi traduzido, em algumas versões, por “preordenou” e, em Atos 4.28, que foi traduzido por “predeterminaram”.

Já o termo “presciência”, traduzido de “προγνωσις (prognosis)”, aparece em Atos 2.23 e na primeira carta de Pedro 1.2.

Proorizo (predestinação), significa: “predeterminar”, “decidir de antemão”, “preordenar”, “designar de antemão”. No Novo Testamento é usado no sentido de “o decreto de Deus desde a eternidade”. Este é derivado de “προ (pro)”: “antes” e “οριζω (horizo)”, que significa: “determinar”, “definir”, “aquilo que foi determinado, de acordo com um decreto”, que é derivado de “οριον (horion)”, que significa “fronteira”, no sentido de limites de uma região, terra ou território.

Já prognosis (presciência), significa “preconhecimento”, “conhecimento prévio”, que é derivado de “προγινοσκω (proginosko)”, que significa “prever”, “ter conhecimento de antemão”, ou “predestinar”. Que deriva de “προ (pro)”, que significa “antes”, e ”γινωσκω (ginosko)”: “saber”, “entender” ou “tornar-se conhecido”.

Em Atos 2.23, onde aparece o termo prognosis, Pedro se levanta após o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, e começa a pregar e expor as Escrituras. Pedro assim usa este termo ao falar sobre a prisão e morte de Cristo, que, aconteceu segundo o “conselho (vontade) e presciência de Deus”. Pedro quis dizer que, o que aconteceu, não poderia ter sido impedido, pois já estava decretado por Deus. Por já estar decretado, Deus tinha conhecimento do que aconteceria com Seu Filho.

Na Primeira Epístola de Pedro, capítulo 1, versículo 2, Pedro estava saudando os cristãos que estavam em Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, e, os chama de “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”. Este texto é muito usado em defesa do argumento de que Deus elegeu os salvos segundo o seu conhecimento prévio do futuro e, assim, saber quem iria se entregar para Cristo e, assim, seria salvo. Mas, como diria o Pr. Marcos Granconato: “Se Deus escolheu os salvos segundo a Sua presciência, quem colocou o futuro lá para Deus consultar e ver quem seria salvo?”. Já que se tratava de uma saudação, Pedro os estava motivando ao dizer que, tudo o que acontece está sob o controle de Deus, que nada nem ninguém pode surpreender à Deus e que aqueles cristãos, seriam salvos pois Deus assim já determinara de antemão. Ou, possivelmente, o termo "presciência" neste texto não estaria se referindo à "eleitos", pois o termo grego "eklektos", que significa "eleitos", não aparece no segundo versículo, somente no primeiro, porém, os tradutores entenderam que o termo "presciência" estava relacionados a "eleitos", contudo, como se trata de uma carta de consolo, pode ser que o apóstolo quis se referir ao fato de eles serem forasteiros da dispersão estava sob o controle de Deus.

Conforme o príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon disse: “você pode discordar da palavra ‘predestinação’, mas não pode retirá-la da Bíblia”, nem a palavra, nem o conceito. Na carta ao Romanos 9:10ss, o conceito de eleição incondicional, fica claro quando o Apóstolo mostra que Deus escolheu amar Jacó e aborrecer Esaú, antes de terem nascido, antes de terem feito bem ou mal, ou quando mostra que Deus levantou o faraó que contendeu contra Moisés e o povo de Deus para mostrar nele o Seu poder.

O Ser humano tende a “criar” um “Deus” conforme seu próprio pensamento, um dos argumentos que se ouve contra a predestinação é que “Deus seria cruel ao escolher incondicionalmente apenas alguns”. Entretanto, segundo as Escrituras (Rm 9:19-24), vemos que não há injustiça da parte de Deus, pois o “oleiro tem poder sobre o barro para fazer vasos de honra e vasos de desonra”. Deus faz o que Ele quer com a Sua criação! E não vemos Deus como ruim, pelo contrário, sendo Deus Justo, Ele deveria condenar a todos, haja vista que todos somos pecadores (Rm 3:23), contudo, Ele, em Sua infinita misericórdia e graça, determinou retirar alguns deste caminho de perdição e conduzi-los à salvação.

Com isso, é importante ressaltar que, o eleito, não pode viver sem a busca por santidade, pensando que “uma vez predestinado, não perderei a salvação”, essa é uma atitude de alguém que não foi regenerado de fato. Pois a busca pela santidade é consequência da eleição e da justificação. De igual forma o ato de evangelizar, muitos pensam que “se somos predestinados não é necessário evangelizar, já que todos os eleitos serão salvos” entretanto as Escrituras nos mostram que a evangelização é a forma que Deus ordenou para que o eleito entre no caminho da salvação. De igual forma que Deus ordenou que orássemos, mesmo sabendo o que iremos pedir ou precisamos (Mt 6:8).

Deus predestinou os eleitos e tudo o que aconteceu ou há de acontecer. Ao chegar nesse conclusão, Deus é exaltado por reconhecermos que sem Ele não somos nada, que não depende de nada que eu faça para ser salvo, somente dEle, pois se assim não fosse, eu nunca seria salvo.

C. H. Oliveira